Uma arte literária: O banquete de Mário de Andrade
DOI:
https://doi.org/10.53943/ELCV.0220_08Palavras-chave:
Mário de Andrade;, literatura modernista;, iguarias;, música brasileiraResumo
A derradeira obra de Mário de Andrade, O banquete, obra que ele redigia quando foi surpreendido pela morte e que permaneceu incompleta, apresentou usos literários inovadores de comidas. Por intermédio de um almoço elegante, o autor discorreu sobre problemas vivenciados pela criação musical erudita brasileira na década de 1940. A degustação de cada nova iguaria servida aos convidados de um banquete peculiar ocasionou a discussão de facetas dos problemas que a produção e a recepção pública das atividades musicais brasileiras enfrentavam por volta de 1940. A escolha do cardápio não se mostrou inocente. Ao contrastar comidas nacionais saborosas e pouco vistosas e comidas sedutoras impingidas pela intromissão de uma norte-americana, Mário de Andrade reivindicou um lugar ao sol para o folclore que deveria, a seu ver, constituir uma fonte de inspiração para compositores brasileiros de obras eruditas. Dos cinco comensais presentes no banquete, quatro lidavam com a música: uma anfitriã apreciadora das artes, uma cantora famosa, um político responsável pelo financiamento às artes e um compositor talentoso, não conformista e pobre. Ao aceitar com maior ou menor entusiasmo as iguarias oferecidas, cada comensal definiu sua adesão a valores culturais nacionais ou estrangeiros. Comentários revelando características pessoais permitiram a Mário de Andrade evitar que tais personagens parecessem marionetes manipuladas. A análise da obra no contexto de sua época, abriu também curiosas perspectivas antropológicas de reflexão sobre o surgimento da culinária como tema relevante de estudos etno-históricos.
Referências
Fontes
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Estudos
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