Da ilha-refúgio ao espaço da xenofobia, num «arquipélago» de ambiguidade, na tragédia Les portugaiz infortunez, de Nicolas-Chrétien Des Croix (1608)
DOI:
https://doi.org/10.53943/ELCV.0118_04Palavras-chave:
Ilha, arquipélago, refúgio, xenofobia, ambiguidade, catarseResumo
Utilizando o contributo teórico de autores como G. Voisset e Massimo Cacciari, além do de poetas como Horácio, Fernando Pessoa e Édouard Glissant, este estudo analisa a tragédia Les portugaiz infortunez, de Nicolas-Chrétien Des Croix, publicada em Rouen, em 1608. O naufrágio de Manuel de Sousa Sepúlveda, com sua mulher e filhos, além de 600 tripulantes e passageiros, no Galeão S. João, em 1552, na Terra do Natal, relato publicado na época em avulso e compilado no T. I da História trágico-marítima (1735), por B. Gomes de Brito, bebido na fonte do Historiarum indicarum, (Livro XVI) do padre G. Maffei (Florença, 1588) é o objeto da peça trágica. Após a peregrinação pelo litoral e pelo sertão, envolvendo cerca de 300 léguas, os náufragos são acolhidos na ilha do Inhaca por um régulo bom. Mas a desconfiança dos Portugueses leva-os a um imprudente afastamento da ilha até chegarem a Manhiça, onde são desarmados e desnudados, morrendo de exaustão e fome a maior parte deles. Finalmente, partem da ilha dos Elefantes para a ilha de Moçambique. À imagem da ilha-refúgio (Inhaca, Elefantes, Moçambique) sucede as da xenofobia, da desconfiança e do sacrifício expiatório. A imagem do «arquipélago», extensiva ao espaço continental (Manhiça), envolve de ambiguidade a receção aos náufragos que na peça são avaliados também no âmbito da ambiguidade: ambição colonialista versus anúncio evangélico.
Referências
Bachelard, G. (1957). La poétique de l’espace. PUF.Paris
Blanchot, M. (1988). L’espace littéraire.Gallimard. Paris
Brito, B.G. (1735). História tragico-marítima. Livraria d’Alcobaça. Lisboa Occidental. T. 1
Cacciari, M. (1997). L’arcipelago. Adelphi. Milano
Croix, N.-C. (1991). Les portugaiz infortunez. Droz. Genève
Deleuze, G. e Guattari, F. (1980). Mille plateaux.Minuit. Paris
Durand, G. (1984). Les structures anthropologiques de l’imaginaire.Dunod. Paris
Flaco, Q.H. (1967). Opera. Oxford Classical Texts. Oxford
Glissant, E. (1994).Poèmes complets. Gallimard. Paris
Hardee, A.M. (1991). Introduction. Em:N.-C. Croix, Les portugaiz infortunez. Droz.Genève
Lebègue, R. (1977). Etudes sur le théâtre français. Nizet. Paris
Lotman, Y. (1999). L’univers de l’esprit. Pulim. Limoges
Maffei, G. (1588). Historiarum indicarum, liber XVI. Firenze
Moniz, A.M.A. (2001). A História trágico-marítima: Identidade e condição humana.Edições Colibri. Lisboa
Moretti, F. (2000). Atlas du roman européen: 1800-1900. Seuil. Paris
Pessoa, F. (1978). Mensagem. (12.ª ed.). Ática. Lisboa
Pessoa, F. (1995). Poesias.(15.ª ed.). Lisboa: Ática
Soja, E. (1996). Thirdspace: Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Basil Blackwell. Oxford
Solleine, M. (s. d.). Bibliothèque dramatique. Burt Franklin. New York
La Vallière, Duc de (1768). Bibliothèque du théâtre français depuis son origine. Groell. Dresden
Voisset, G. (2003). L’imaginaire de l’archipel. Éditions Karthala. Paris
Westphal, B. (2005). Geocritique, mode d’emploi. Pulim. Limoges.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2018 António Manuel de Andrade Moniz

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Os autores conservam os direitos de autor e concedem à revista o direito de publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação nesta revista.